Trabalhando a Internet com uma vis�o social

 

Documento coletivo

da Comunidade Virtual M�stica1

para o projeto Ol�stica2

 

Setembro de 2002

Documento final

 

CONTEXTO

Este documento foi realizado coletivamente (cf. cap�tulo �processo�) para servir de guia a v�rias atividades ligadas aos projetos M�stica3 e Ol�stica, coordenados pela Funda��o Redes e Desenvolvimento (FUNREDES4).

Mais especificamente, serve de base para uma observa��o alternativa do impacto social das TIC na Am�rica Latina e no Caribe. Tal observa��o deve inspirar-se nos princ�pios da "Isticometria"5, que estabelecem que os indicadores precisam ser desenvolvidos dentro de processos participativos a fim de que se consigam vincular as prioridades de desenvolvimento estabelecidas pelas comunidades e de que estes indicadores sejam elaborados de acordo com a relev�ncia social dos fen�menos para os quais apontam, relev�ncia que n�o se pode abandonar aos preconceitos das elites ou dos agentes dominantes. De fato, o prop�sito � de que as sociedades, os agentes e, sobretudo, as pessoas que devem gozar de seus benef�cios tenham uma participa��o no processo de formula��o das pol�ticas p�blicas.

Assim, este documento pretende modelar, em termos acess�veis a pessoas n�o especializadas no tema, a vis�o da Internet como ferramenta de desenvolvimento social que um coletivo de pessoas (acad�micos/as e gente da �rea) foi conceituando em discuss�es virtuais desde 1999. O alcance deste documento deveria ir logicamente al�m dos projetos mencionados e poderia representar uma contribui��o de nossa regi�o ao debate internacional sobre a sociedade da informa��o.

 

ANTECEDENTES

 

O projeto M�stica produziu dois documentos coletivos anteriores sobre a mesma tem�tica, mas com enfoques diferentes:

A esta lista deve-se adicionar um documento que n�o foi produzido coletivamente e que n�o faz parte das realiza��es do projeto M�stica, mas que, no entanto, � fruto de consultas relevantes, transmitindo, em boa medida, as reflex�es da CV M�stica:

 

Existem, igualmente, outros documentos regionais com uma perspectiva bastante pr�xima, frutos da reflex�o coletiva em outros espa�os, direta ou indiretamente:

�        �Carta a la T�a Ofelia: Siete propuestas para un desarrollo equitativo con el uso de NTC�9, 4/02, de Ricardo G�mez e Benjam�n Casadiego, inspirados num trabalho de cria��o coletiva durante a Oficina de Interc�mbio de Experi�ncias sobre Apropria��o Social de NTIC para o Desenvolvimento na Am�rica Latina e no Caribe, organizada por ITDG10, Cajamarca, Peru, 3/02.

�        ��Telecentros para qu�? Lecciones sobre telecentros comunitarios en Am�rica Latina y el Caribe�G11, 9/02, de Ricardo G�mez, Karin Delgadillo e Klaus Stroll, inspirado na experi�ncia do projeto Somos@TelecentroG12.

    

Este conjunto de documentos, incluindo o presente documento, representam a produ��o original e pr�pria � regi�o da Am�rica Latina e do Caribe sobre as tem�ticas da sociedade da informa��o.

 

PROCESSO

 O processo de coletiviza��o do documento foi sistematizado por Kemly Camacho, da Fundaci�n Acceso13, da seguinte maneira:

-         a autora redigiu uma proposta inicial onde tentou modelar o conte�do consensual das discuss�es da Comunidade Virtual (CV) M�STICA nos �ltimos meses;

-         esta proposta inicial foi submetida a discuss�o no �mbito do grupo de coordena��o do projeto OL�STICA14;

-         produziu-se uma segunda vers�o15 que integrava os coment�rios do grupo de coordena��o;

-         a seguir, o documento foi levado a discuss�o16 no �mbito da CV M�stica, com uma agenda de discuss�o que se estendeu por v�rias semanas;

-         finalmente, os coment�rios coletados foram integrados nesse documento para produzir uma pen�ltima vers�o;

-         esta, por sua vez, foi revisada por um grupo de coordena��o e finalizada pelo respons�vel do projeto, Daniel Pimienta, antes de ser exposta � CV, que p�de avaliar se seus coment�rios tinham sido devidamente integrados e, assim, finalizar o documento.

Com este documento, chegou-se a um produto que reflete, de maneira geralmente consensual e em grandes linhas, os enfoques do coletivo M�stica. N�o obstante, salientamos que n�o se trata de um documento formalmente endossado por cada um dos participantes da CV M�STICA.

Os coment�rios finais, que abrem ainda mais as perspectivas deste documento, est�o reunidos no seguinte endere�o. http://funredes.org/mistica/castellano/emec/produccion/memoria6/1326.html.

 

INTRODU��O

 J� h� algum tempo17, na Comunidade Virtual M�stica, integrada por latino-americanos/as y caribenhos/as, estamos desenvolvendo um processo de reflex�o sobre o tema do abismo digital, a sociedade da informa��o, o conhecimento e impacto social da Internet. Com o t�tulo de "Vis�o Social da Internet", refletimos, empreendemos e promovemos a��es onde se aprofundem a compreens�o dos efeitos e impactos desta tecnologia ao se inserirem em nossas sociedades e onde se estabele�am a��es que promovam uma apropria��o social da Internet. A seguir, apresentamos os princ�pios fundamentais partilhados por aqueles que, como n�s, fazem estas propostas.

 

1. A Internet18 � um tema social, n�o s� t�cnico ou comercial.

N�o vemos a rede de redes somente como uma plataforma tecnol�gica. Preferimos v�-la como um novo espa�o de intera��o entre os seres humanos, criada por n�s mesmos (as) para nosso pr�prio benef�cio.

Este espa�o vai se transformando a partir da pr�pria intera��o que vamos desenvolvendo. Ent�o, consideramos que esta tecnologia deve ser vista, analisada, manuseada, estudada e utilizada do ponto de vista social, tentando entender os novos tipos de rela��es que se estabelecem dentro deste espa�o, os novos processos sociais que gera, as transforma��es culturais que produz, as novas vis�es do mundo que se constr�em, as novas rela��es econ�micas que se estabelecem.

A Internet n�o deve ser vista como a rede de redes do ponto de vista t�cnico, ou seja, de m�quinas interconectadas. A Internet deve ser vista como uma rede de redes humanas que se relacionam umas com as outras e onde os computadores s�o somente a plataforma tecnol�gica que permite midiatizar19 essas rela��es.

Claro que o fato de que esteja baseada numa plataforma tecnol�gica de computadores inter-relacionados faz com que esta rede de redes humanas funcione com caracter�sticas inovadoras e espec�ficas. A partir do momento em que as rela��es passam pela plataforma tecnol�gica, as comunica��es sofrem modifica��es em sua forma e fundo.

Por outro lado, pensamos que � importante que a Internet n�o seja considerada somente como uma ferramenta para a realiza��o de novas formas de interc�mbios comerciais � que � o que atualmente prioriza, estimula e apoia o setor privado -, mas tamb�m para promover a dinamiza��o de estruturas e rela��es econ�micas, pol�ticas e sociais alternativas �s tradicionais. Movida somente pelas for�as de mercado, a Internet reproduzir� e aumentar� as diferen�as sociais existentes.

A sociedade civil tem um papel fundamental ao definir os novos tipos de rela��es e constru��es sociais que deveriam se desenvolver a partir da incorpora��o das tecnologias da informa��o e comunica��o. Esta n�o � uma problem�tica s� de governos e empresas.

 

2. Estimulamos a igualdade na possibilidade de acesso, o uso com sentido e a apropria��o social da Internet.

 

Para a an�lise, conduzir as a��es e elaborar propostas relacionadas com esta tecnologia, utilizamos as categorias de igualdade de possibilidade de acesso, com um sentido e apropria��o social da Internet. Consideramos que a simultaneidade dos tr�s aspectos � importante para atingir um impacto social positivo ao incorporar a Internet em nossos pa�ses.

Compreendemos o acesso com igualdade de possibilidades como a possibilidade de que todas as pessoas tenham acesso aos benef�cios da Internet. Incorporamos nesta categoria tanto o acesso � tecnologia quanto o desenvolvimento das capacidades t�cnicas e metodol�gicas para poder ter um uso efetivo das potencialidades por ela oferecida. As barreiras ao acesso eq�itativo n�o s�o somente t�cnicas, mas tamb�m educativas, ling��sticas e culturais.

Neste sentido, tamb�m nos preocupamos com a busca de alternativas na conex�o e capacita��o gratuitas ou a baixo custo e com as pol�ticas, a tomada de decis�es e a administra��o na Internet. Estamos interessados em participar nas defini��o das pol�ticas ligadas �s �reas, custos dos espa�os na Internet e aspectos legais que rodeiam esta tecnologia de tal forma que nossas vis�es e interesses sejam levados em considera��o.

Encontramos uma diferen�a entre o uso e o uso com sentido desta ferramenta tecnol�gica. Apoiamos as a��es que promovam um uso que relacione as necessidades dos diferentes grupos sociais e a busca de alternativas para as resolver utilizando a Internet.

Enfatizamos a apropria��o social da Internet de forma que esta ferramenta adquira um significado na quotidianidade dos grupos sociais e venha a ser uma ferramenta para a gera��o de novos conhecimentos que lhes permita transformar as realidades nas quais se encontram inseridos.

   

3. Nossa inten��o final � a transforma��o das sociedades.

N�s que estudamos, pesquisamos, avaliamos e estimulamos a��es relacionadas a esta tecnologia com uma vis�o social, manifestamos explicitamente que nos propomos a utilizar esta tecnologia como ferramenta para a transforma��o das sociedades. Por isso, tentamos descobrir e incentivar maneiras para que ela contribua na constru��o de novas sociedades guiadas por valores comuns como rela��es mais eq�itativas, menos discriminat�rias e que promovam a igualdade de oportunidades.

Al�m disso, enfatizamos, a partir de cada uma de nossas especificidades, nosso compromisso em promover a��es que aproximem as oportunidades da Internet dos grupos menos privilegiados de nossas sociedades.

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4. N�o engrandecemos esta ferramenta tecnol�gica, mas encontramos na Internet uma oportunidade.

N�o acreditamos que a Internet por si s� produza mudan�as que transformem as condi��es econ�micas e sociais dos grupos menos privilegiados de nossas sociedades e do mundo. N�o concebemos um processo linear; n�o acreditamos que exista uma rela��o autom�tica ou uma rela��o causa-efeito entre a Internet e o desenvolvimento social.

Para que esta tecnologia seja aproveitada como uma ferramenta de desenvolvimento social, devem existir processos que possibilitem �s popula��es, organiza��es e pa�ses apropriarem-se dessa tecnologia de tal forma que a Internet venha a formar parte de seu quotidiano e tenha um sentido em sua vida di�ria. Ou seja, que tenha um significado na possibilidade de melhorar as condi��es de vida, que seja algo pr�ximo e relevante para a transforma��o das rela��es sociais, econ�micas e pol�ticas existentes.

Devemos insistir para mudar o sentido das a��es relacionadas � Internet e que s�o estimuladas. Estas a��es priorizam a instala��o de conex�es e equipamentos e, posteriormente, pergunta-se para que podem servir. Convidamos a uma reflex�o inicial conjunta sobre os principais problemas e necessidades existentes, como a Internet pode contribuir para resolv�-los e, posteriormente, decidir se s�o realiz�veis, como e onde, estas instala��es de equipamentos e conex�es.

A Internet � uma porta aberta e ainda podemos aproveitar as organiza��es, comunidades, pessoas e pa�ses para melhorar as condi��es de vida das popula��es menos favorecidas.

Mas tamb�m estamos cientes de que tudo depende das a��es que empreendamos num futuro pr�ximo para que os espa�os de aproveitamento da Internet na transforma��o das sociedades se reduzam ou se ampliem.

Neste sentido, a Internet deve responder a uma estrat�gia de comunica��o e informa��o adotada por aqueles que desejam, como n�s, uma melhoria das sociedades nas quais vivemos.

 

5. O conceito de abismo digital deve ser abordado de forma coletiva, e n�o individual.

 

O abismo digital � produto da ruptura social. Primeiramente, consideramos que o abismo digital n�o existe por si mesmo, mas � o produto das rupturas sociais. Ou seja, trata-se das diferen�as sociais preexistentes, pol�ticas ou econ�micas, da distribui��o do poder e dos recursos que as provocam.

O abismo digital n�o enfrenta somente m�quinas conectadas. Enfrentar o abismo digital implica n�o s� dispor de computadores, mas tamb�m desenvolver as capacidades necess�rias junto � popula��o para que possam aproveitar esta ferramenta tecnol�gica em benef�cio do desenvolvimento pol�tico, social e econ�mico. Isso significa, al�m de poder ter acesso a computadores conectados, melhorar a auto-estima, a organiza��o comunit�ria, o n�vel educativo, as capacidades de intera��o com outras pessoas e grupos, os n�veis de empowerment para ser propositivo, entre outras coisas. Vencer o abismo digital significa que os grupos com os quais trabalhamos t�m capacidade suficiente para poder aproveitar esta tecnologia e melhorar suas pr�prias condi��es de vida e a de seu meio.

Em resumo, o abismo digital n�o deve ser medido somente por sua infra-estrutura (por exemplo, o n�mero de m�quinas conectadas), mas tamb�m pela capacidade que tenhamos desenvolvido para transformar a informa��o dispon�vel e as rela��es existentes na Internet em conhecimentos proveitosos para melhorar nossas condi��es de vida e nossas rela��es de apoio m�tuo.

Superar o abismo digital � um problema coletivo e n�o individual. Por esta raz�o, n�o estamos de acordo com a id�ia de enfocar a medi��o do abismo digital de forma individual. A medi��o mais comum � feita a partir do n�mero de habitantes com rela��o ao n�mero de m�quinas conectadas. Damos �nfase � id�ia de valorizar mais a op��o coletiva. Neste sentido, consideramos que os benef�cios da Internet n�o prov�m da conex�o em si, mas dos efeitos por ela produzidos. Ou seja, poder�amos falar de redu��o do abismo digital se os benef�cios desta ferramenta atingissem uma comunidade por inteiro, ainda que esta comunidade tivesse poucos ou nenhum computador conectado. Quando falamos de superar o abismo digital, falamos de comunidades, organiza��es ou fam�lias que tiram proveito da Internet ainda que n�o estejam conectadas diretamente, e n�o da rela��o um a um, indiv�duo-m�quina.

 

Para exemplificar, se numa comunidade um grupo de jovens tem acesso � Internet em seu col�gio (e n�o em sua comunidade) e descobre, por meio desta ferramenta, uma nova maneira de transformar em �gua pot�vel a �gua do rio, discute sobre esta informa��o com os adultos, adapta a informa��o �s suas condi��es de vida, realiza um projeto similar de acordo com suas necessidades e vis�es do mundo, conseguindo produzir entre eles/as �gua pot�vel a partir da fonte do rio. E se isto serve de exemplo e o grupo continua atuando desta maneira, estar� oferecendo � comunidade os benef�cios da Internet. Ent�o, podemos falar de a��es que permitem uma redu��o do abismo digital junto � esta comunidade apesar de que somente um grupo de jovens tenha acesso � Internet e de que n�o existam computadores com acesso nesta comunidade.

Pensamos que o abismo digital deve ser valorizado com base nos benef�cios oferecidos ou n�o pela Internet �s popula��es e cremos que o simples fato de ter uma conex�o n�o � suficiente para atingir estes objetivos. Evidentemente, estes processos s�o mais r�pidos quando existem conex�es na comunidade, mas a simples conex�o n�o far� a diferen�a.

Assim, damos apoio �s a��es que reduzem o abismo digital, oferecendo os benef�cios da Internet �s popula��es de forma coletiva e n�o s� �s a��es que tendam � conex�o de todos � Internet. Pensamos que os esfor�os e recursos para a redu��o do abismo digital n�o devem estar centrados nas m�quinas, mas sim nos processos comunit�rios, organizativos e nacionais que ofere�am os benef�cios da tecnologia � maior parte da popula��o.

 

6. Na Internet refletem-se as rupturas sociais de nossas sociedades: depende de n�s aproveitar e defender os espa�os abertos existentes.

 

� �bvio que na Internet existem diferen�as. N�o temos todos as mesmas possibilidades de acesso ao que se apresenta na rede, nem a mesma facilidade para visibilizar o que produzimos, nem os mesmos recursos tecnol�gicos e equipamentos para aproveitar esta ferramenta. Estas diferen�as est�o relacionadas com os custos e o conhecimento da tecnologia.

Preocupamo-nos por esta tend�ncia, mesmo se pensamos que ainda existem muitos espa�os abertos. Trabalhamos para apoiar a��es que reduzam o perigo de que a Internet se transforme numa ferramenta manipulada principalmente pelos recursos econ�micos dos que dela participam.

Procuramos que as pessoas que menos possibilidades t�m em nossas sociedades para serem ouvidas possam encontrar nesta ferramenta um espa�o para suas vozes, para interagir e organizar-se com outras pessoas e um lugar onde possam encontrar informa��o que lhes ajude a buscar solu��es e a resolver necessidades.

 

 

7. A Internet pode refor�ar os processos de desenvolvimento humano j� existentes

A Internet � sobretudo uma ferramenta apta a criar e refor�ar as redes humanas. Sua introdu��o est� possibilitando a cria��o de uma nova rede social que temos que compreender e dominar.

A Internet � uma ferramenta que pode facilitar, melhorar, agilizar os processos que se est�o desenvolvendo nos pa�ses, comunidades, organiza��es e regi�es, e que tendem a melhorar as condi��es de vida da maior parte das popula��es.

Portanto, damos apoio �s a��es que integrem a Internet dentro das pr�ticas sociais e das iniciativas organizativas j� existentes que tendem a melhorar as condi��es de vida dos menos favorecidos e que promovam o desenvolvimento de processos participativos mais amplos. 

 

8. A Internet oferece informa��o, n�o conhecimento.

Pensamos que a Internet � uma fonte inesgot�vel de informa��o, mas que n�o nos fornece conhecimento. O conhecimento � produzido por n�s mesmos de forma individual ou coletiva ao assimilar a informa��o, refletindo sobre ela, adaptando-a a nossas experi�ncias, necessidades, condi��es, vis�es do mundo, discutindo com outras pessoas pessoal ou virtualmente

A gera��o de conhecimento implica desenvolver o �processo de pensar� e esta � uma a��o de car�ter absolutamente humano. A Internet ajuda-nos neste processo, facilitando-o, j� que encontramos em seu interior experi�ncias parecidas, li��es aprendidas, novas id�ias sobre os mesmos temas, recebemos informa��o, ampliamos nossas vis�es, discutimos amplamente com pessoas e grupos de muitos lugares do mundo. Mas o processo de gera��o de conhecimentos acontece fora da Internet.

Acreditamos que � necess�rio ir al�m do mito de que a informa��o � conhecimento e de que, conseq�entemente, o simples fato de estar conectado � Internet possibilita obter mais conhecimento.

 

9. A gera��o de novos conhecimentos � um motor da mudan�a que a Internet pode fortalecer, mas � preciso descobrir como funciona.

A gera��o de novos conhecimentos que incorporam a Internet como uma ferramenta de informa��o e comunica��o n�o � um processo f�cil. � indispens�vel descobrir as novas habilidades e capacidades, a varia��o nos processos de trabalho, os novos perfis educativos que nos permitir�o aproveitar melhor esta ferramenta para a gera��o de conhecimentos. Se n�o fazemos estas reflex�es, corremos o risco de coletar muita informa��o sem obter as mudan�as almejadas e ficaremos inertes pela quantidade incomensur�vel de dados.

A constru��o de conhecimentos que proponham novas solu��es �s necessidades, melhorem as formas de produ��o, proponha alternativas aos problemas, ser� o motor de transforma��o das sociedades. Mas, aprender a faz�-lo n�o � um processo espont�neo e, portanto, tratamos de apoiar os estudos e pesquisas que enfatizem a descoberta destas novas formas de produ��o e a promo��o desta id�ia junto �s ag�ncias internacionais, governos nacionais e locais, organiza��es e comunidades.

A descoberta destas novas formas de produ��o deve ser feita em conjunto com os agentes sociais de forma que a constru��o leve em considera��o as diferentes vis�es do mundo, estimulando o processo de apropria��o da ferramenta tecnol�gica.

O importante � que a Internet se converta numa ferramenta �til para que os grupos sociais menos privilegiados gerem novos conhecimentos que lhes permitam melhorar suas condi��es de vida e transformar as sociedades em que vivem.

 

 

10. O impacto da Internet est� nas mudan�as que gera.

Continuando nesta linha de pensamento, quando se fala do impacto da Internet, tentamos entender como a Internet transformou o quotidiano das pessoas em sua vida pessoal, em sua atividade no trabalho, suas rela��es interpessoais, a n�vel organizacional e de cidad�o.

Quando falamos de avaliar o impacto, tentamos descobrir em que medida a Internet est� transformando as realidades grupais e pessoais daqueles que formam a sociedade. N�o enfatizamos o n�mero de computadores, as velocidades de conex�o, a quantidade de mensagens, etc. Estes s�o para n�s elementos que nos permitem compreender o contexto no qual vivemos. Tratamos de ir al�m do aparente para entender o essencial, o que restar� desta transforma��o.

 

 

11. Preocupa-nos saber que a introdu��o das TIC leva a transforma��es da sociedade que acarretam mudan�as sociais positivas para nossa regi�o.

Somos cautelosos ao afirmar que se est� construindo uma nova sociedade da informa��o e do conhecimento. Tomamos cuidado para n�o estar repetindo um slogan. Pensamos que todas as sociedades tiveram suas pr�prias formas de gerar conhecimentos e que esta depende do contexto cultural.

Constatamos com aten��o as modifica��es nas estruturas sociais, pol�ticas e econ�micas que est�o sendo produzidas para poder afirmar que n�o est�o sendo refor�adas as estruturas existentes e que a transforma��o � substancial.

Al�m disso, n�o consideramos que a Internet seja o �nico fator de transforma��o das sociedades atualmente. Adotamos uma vis�o integral e cr�tica, onde se analisem os muitos fatores e din�micas que as transformam permanentemente.

 

 

12. Tamb�m � poss�vel viver sem a Internet

Pensamos que a Internet pode ter tamb�m conseq��ncias negativas na vida pessoal, organizativa e social. Com freq��ncia, tudo o que viaja por este meio � mais quantitativo que qualitativo. A Internet pode produzir sobrecargas de trabalho, satura��o, limita��o no contato pessoal, sentimentos de imediatismo, diminui��o dos espa�os de leitura, reflex�o e lazer.

Tamb�m � poss�vel viver sem a Internet, apesar das press�es do contexto que incitam todas as pessoas, organiza��es e institui��es a se conectarem. N�o obstante, esta decis�o deve ser feita com conhecimento de causa, ou seja, depois de ter tido a oportunidade de conhecer a din�mica que a Internet implica.

 

13. Considera��es para determinar a apropria��o social da Internet em nossas a��es e projetos.

Partindo das posi��es expostas anteriormente e em forma de resumo-guia, propomos a seguir uma s�rie de perguntas que nos permitem analisar as diferentes propostas e a��es desenvolvidas em rela��o com a incorpora��o da Internet em nossos pa�ses e seus habitantes.

  1. Com rela��o ao acesso eq�itativo.
    1. Estamos dando prioridade aos grupos populacionais menos favorecidos?
    2. Estamos incorporando a capacita��o t�cnica e metodol�gica como parte da conectividade?
    3. Estamos oferecendo acesso a todos os recursos da Internet para que as popula��es selecionem como melhor lhes convenha? Ou estamos restringindo o acesso somente a certos servi�os?
    4. Os processos de acesso � Internet que est�o se desenvolvendo ou que se prop�em desenvolver est�o promovendo acessos coletivos a esta ferramenta tecnol�gica? Em que sentido estas propostas e a��es promovem a redu��o do abismo digital em termos de comunidades, organiza��es e fam�lias conectadas?

 

  1. Com rela��o ao uso com sentido.
    1. Em que sentido os usos da Internet desenvolvidos atualmente (ou cujo desenvolvimento � proposto) estimulam a constru��o de rela��es mais eq�itativas, menos discriminat�rias e que promovam a igualdade de oportunidades?
    2. Em que sentido os usos da Internet desenvolvidos atualmente (ou cujo desenvolvimento � proposto) promovem uma transforma��o das rela��es econ�micas, pol�ticas e sociais existentes?
    3. Em que medida os usos da Internet promovidos atualmente est�o se integrando nas pr�ticas sociais j� existentes e n�o representam imposi��es ou mudan�as n�o desejadas?
    4. Em que medida os usos da Internet promovidos atualmente fortalecem os processos participativos das popula��es com as quais se trabalha?
  2. Com rela��o � apropria��o social.
    1. Em que sentido as a��es que se prop�em desenvolver (ou que est�o se desenvolvendo) estimulam as popula��es que delas se beneficiam a dar � Internet um significado pr�prio, aut�ctone e aut�ntico que responda � sua viv�ncia quotidiana?
    2. Em que medida as a��es que se prop�em desenvolver (ou que est�o se desenvolvendo), d�o incentivo � participa��o das popula��es com as quais se trabalha na defini��o e administra��o do que vai ser realizado utilizando a Internet?
    3. Em que medida as a��es que est�o sendo estimuladas com a Internet apoiam os processos comunit�rios, organizacionais e nacionais que promovem uma transforma��o em dire��o a sociedades mais justas, eq�itativas e dur�veis?
    4. Em que medida as a��es estimuladas atualmente promovem processos que ofere�am os benef�cios da Internet �s popula��es menos privilegiadas das sociedades, especialmente �s que n�o t�m acesso a esta ferramenta?

 

  1. Com rela��o � gera��o de novos conhecimentos.
    1. Em que sentido os usos da Internet estimulados atualmente est�o resolvendo necessidades concretas das popula��es com as quais se trabalha?
    2. Em que sentido os usos da Internet estimulados atualmente est�o contribuindo para a busca de alternativas aos problemas apresentados pelas popula��es com as quais se trabalha?
    3. Em que medida os usos das a��es estimuladas atualmente est�o contribuindo para melhorar as condi��es de vida das popula��es menos favorecidas?
    4. Em que medida os usos da Internet estimulados atualmente est�o permitindo ampliar a informa��o dispon�vel junto �s popula��es para que estas tomem decis�es com maiores crit�rios?
    5. Em que medida est�o sendo estimuladas a��es para melhorar as formas de sele��o, organiza��o, interpreta��o da informa��o �til para a vida quotidiana das popula��es com as quais se trabalha?  
    6. Em que sentido as a��es promovidas est�o estimulando mudan�as estruturais junto �s popula��es e organiza��es para que estas possam desenvolver processos inovadores que permitam incorporar os benef�cios da Internet � vida quotidiana?
  2. Com rela��o � defesa dos espa�os pr�prios na rede e � visibilidade.
    1. At� que ponto as a��es que se promovem estimulam a produ��o de conte�dos locais?
    2. Que n�vel de participa��o est�o tendo as popula��es com as que se trabalha no desenvolvimento de conte�dos locais?
    3. Em que medida est�o sendo promovidas a��es que permitam difundir e promover os conte�dos locais?
    4. Em que sentido est� sendo promovida a Internet como espa�o de express�o dos grupos menos favorecidos da sociedade e das culturas populares?

 

  1. Com rela��o � mudan�a social produzida pela Internet
    1. Em que sentido as a��es de desenvolvimento da Internet promovidas atualmente estimulam aspectos como o desenvolvimento da auto-estima pessoal e coletiva, a organiza��o comunit�ria, a melhoria do n�vel educativo, as capacidades de intera��o com outras pessoas, os n�veis de empowerment e o desenvolvimento da capacidade de propor das popula��es com as quais se trabalha?
    2. Em que sentido as a��es de desenvolvimento da Internet est�o transformando o quotidiano das pessoas a n�vel pessoal, de trabalho, interpessoal e cidad�o?
    3. Que probabilidade existe para que as transforma��es produzidas pelas a��es executadas tenham continuidade no tempo?

1. Diret�rio da CV M�stica: http://funredes.org/mistica/castellano/emec/participantes/

2. http://funredes.org/olistica

3. http://funredes.org/mistica

4. http://funredes.org/

5. http://www.funredes.org/olistica/documentos/doc2/isticometros.html

6. http://funredes.org/mistica/castellano/ciberoteca/tematica/esp_doc_sam2_1.html

7. http://funredes.org/mistica/castellano/ciberoteca/tematica/esp_doc_cv.html

8. http://www.acceso.or.cr/PPPP/

9. http://www.idrc.ca/pan/ricardo/publications/Ofelia.htm

10http://wwww.itdg.org.pe

11 http://www.idrc.ca/pan/ricardo/publications/tcparaque.pdf

12 http://www.tele-centros.org/

13http://acceso.or.cr/

14 http://www.funredes.org/olistica/socios/

15. http://funredes.org/mistica/castellano/ciberoteca/tematica/esp_doc_olist.html

16. http://funredes.org/mistica/castellano/emec/produccion/

17� Desde fevereiro de 1999, quando iniciaram-se as discuss�es na CV M�STICA.

18 �Internet� � um protocolo de comunica��o (TCP-IP) que permite que computadores possam se comunicar entre eles. �A Internet� � uma rede que possibilita que as pessoas se comuniquem e se informem atrav�s do uso de m�quinas e protocolos: por isso preferimos utilizar a express�o �a Internet�, que se refere � rede humana e que est� acima da camada tecnol�gica.

19 E em muitos casos, devido a suas limita��es de interface, "desmidiatizar"�