A C�pula Mundial da Sociedade da Informa��o:� As cartas est�o marcadas?

 

Paulo Lima, Historiador e Secret�rio Executivo da Rede de Informa��es para o Terceiro Setor - Rits

 

2003 colocar� na agenda dos grandes temas do planeta a constru��o da Sociedade da Informa��o, ter� in�cio o conjunto de reuni�es decisivas para a C�pula Mundial sobre a Sociedade da Informa��o.

 

O encontro foi idealizada em� 21 de dezembro de 2001 quando a Assembl�ia Geral das Na��es Unidas adotou a Resolu��o (A/RES/56/183) que referenda a organiza��o da C�pula Mundial sobre a Sociedade da Informa��o (CMSI).� A C�pula, que foi convocada sob os ausp�cios do Secret�rio Geral das Na��es Unidas, Kofi Annan, tem sua prepara��o sob a responsabilidade da Uni�o Internacional de Telecomunica��o (UIT) e outros organismos das Na��es Unidas interessados e dos pa�ses anfitri�es.

 

A C�pula se confirma a partir da Resolu��o 73 da Confer�ncia de Plenipotenci�rios da UIT, pela qual se realizaram consultas entre os organismos das Na��es Unidas e se afirmou a necessidade de celebrar uma C�pula Mundial sobre a Sociedade da Informa��o. O �rg�o de governo da Uni�o Internacional de Telecomunica��es (UIT), o Conselho, em sua reuni�o de 2001, aprovou a celebra��o desta C�pula, que se realizar� em duas fases: em Genebra, Su��a, de 10 a 12 de dezembro de 2003, e em T�niz, Tun�sia,� em 2005.

 

A C�pula abordar� uma ampla gama de assuntos relativos � Sociedade da Informa��o, e como resultado, se prev� uma vis�o comum e uma melhor comprens�o da transforma��o da sociedade. Se espera que a C�pula adote uma Declara��o de Princ�pios e um Plano de A��o para facilitar o desenvolvimento efetivo da Sociedade da Informa��o e ajudar a combater a info-exclus�o. Trata-se, ent�o, de reunir representantes governo, o setor privado, a sociedade civil e as Organiza��es n�o Governamentais. Ser� uma oportunidade �nica para que a comunidade mundial considere e participe da proposi��o de metas para a constru��o da Sociedade da Informa��o.

 

Cria��o de infra-estrutura

 

� O papel das telecomunica��es, invers�o e tecnologia na cria��o da infra-estrutura da Sociedade da Informa��o e redu��o da brecha digital

 

Portas abertas

 

� Difundir o acesso universal e equitativo a Sociedade da Informa��o

� Satisfazer as necessidades dos pa�ses em desenvimento

� A informa��o como bem p�blico comum

 

 

Servi�os e aplica��es

 

� Efeitos da Sociedade da Informa��o no desenvolvimento econ�mico, social e cultural

� Efeitos da Sociedade da Informa��o na ci�ncia

 

Necessidades dos usu�rios

 

� Prote��o, privacidade e direitos do consumidor

� Conte�dos pertinentes, que reflitam a diversidade cultural e o direito � comunica��o

� �tica da Sociedade da Informa��o

� Capacita��o do usu�rio

� Prote��o do trabalhador e privacidade do lugar de trabalho

 

Desenvolvimento de um marco geral

 

� O papel dos governos, setor privado e a sociedade civil na conforma��o da Sociedade da Informa��o

� A informa��o� como bem p�blico comum (informa��o de dom�nio p�blico)

� Direitos de propriedade intelectual e excess�es establecidas por lei

� Libertade de express�o

� Pol�ticas em mat�ria de tarifas das telecomunica��es e ol aceso � Internet

 

TIC e educa��o

 

� As TIC como alavanca das transforma��es educativas

� O entorno do ensino: TIC, professores, alunos e conte�do

� As necessidades do trabalhador de hoje

 

 

Que Sociedade da Informa��o queremos?

 

A express�o �Sociedade da Informa��o� refere-se a um modo de desenvolvimento social e econ�mico em que a aquisi��o, armazenamento, processamento, valoriza��o, transmiss�o, distribui��o e dissemina��o de informa��o que conduza � cria��o de conhecimento e � satisfa��o das necessidades dos cidad�os e das empresas, desempenhando um papel central na atividade econ�mica, na cria��o de riqueza, na defini��o da qualidade de vida dos cidad�os e das suas pr�ticas culturais. A sociedade da informa��o corresponde, por conseguinte, a uma sociedade cujo funcionamento recorre crescentemente a redes digitais de informa��o. Esta altera��o do dom�nio da atividade econ�mica e dos fatores determinantes do bem-estar social � resultante do desenvolvimento das novas tecnologias da informa��o, do audiovisual e das comunica��es, com as suas importantes ramifica��es e impactos no trabalho, na educa��o, na ci�ncia, na sa�de, no lazer, nos transportes e no ambiente, entre outras.

 

Um fator determinante para o �xito destas transforma��es � a sua ativa aceita��o social. � essencial criar condi��es equitativas de acesso aos benef�cios que esta gera e combater simultaneamente os fatores que conduzem a novas formas de exclus�o do conhecimento, a info-exclus�o. � indispens�vel fomentar o refor�o da coes�o social e da diversidade cultural, a equidade de condi��es em espa�os regionais diversificados, incentivar a participa��o dos cidad�os na vida da comunidade e oferecer um Estado mais aberto e democr�tica na identifica��o dos problemas e das solu��es de interesse p�blico.

 

�A sociedade da informa��o tem de ser uma sociedade para todos. Na defini��o das medidas de pol�tica para a constru��o da sociedade da informa��o devem-se estabelecer condi��es para que todos os cidad�os tenham oportunidade de nela participar e desse modo beneficiar das vantagens que este novo momento do desenvolvimento da civiliza��o tem para oferecer. Para isso, � indispens�vel que todos possam obter as qualifica��es necess�rias ao estabelecimento de uma rela��o natural e "amig�vel" com as tecnologias da informa��o e que seja poss�vel o acesso em locais p�blicos sem barreiras de natureza econ�mica (telecentros comunit�rios p�blicos e gratuitos) que contribuam para a supera��o das dificuldades iniciais das popula��es hoje exclu�das destas possibilidades.� Contudo, a democratiza��o da sociedade do futuro passar� pela possibilidade da grande maioria da popula��o ter acesso �s tecnologias de informa��o e pela capacidade real de as utilizar. Caso contr�rio elas poder�o tornar-se um poderoso fator de exclus�o social.

 

�A sociedade de informa��o encerra em si uma potencial contradi��o - valoriza o fator humano no processo produtivo, ao transformar o conhecimento e a informa��o em capital, mas, simultaneamente, desqualifica os novos "analfabetos" das tecnologias de informa��o, podendo dar origem a um nova classe de exclu�dos.� A Sociedade da Informa��o que queremos e pela qual trabalhamos � ciente destas armadilhas e desafios.� E este � o momento de marcar a presen�a com propostas efetivas e transformadoras, de apontar a explora��o abusiva dos custos de banda Internet nos pa�ses em desenvolvimento e para discutir fundos e propostas de longo prazo para o combate � info-exclus�o.

 

Desafios para os pa�ses em desenvolvimento

 

�Uma Sociedade da Informa��o aberta e universal somente poder� se desenvolver e subsistir se ela for baseada em princ�pios pol�ticos fundamentais que sejam compreendidos por todos. O acesso universal a todos os novos servi�os de informa��o e m�dia �, em muitas mentes, o mais importante desses princ�pios e est� implicitamente incorporado � Declara��o Universal dos Direitos Humanos, particularmente o artigo 19, que trata da liberdade de express�o, e o artigo 27, relacionado � liberdade de acesso � informa��o e prote��o da seguran�a e privacidade dos usu�rios[1].�

 

A Rits, articulada com a Associa��o Brasileira de Organiza��es n�o governamentais - ABONG, vem participando de v�rias discuss�es preparat�rias e, de pronto, p�de avaliar tr�s importantes quest�es n�o incorporadas na prepara��o desta C�pula. No momento em que antecede a II PrepCom (reuni�o preparat�ria que acontecer� de 17 a 28 de fevereiro em Genebra) � fundamental traz�-los a tona, lan�ar luz sobre e preparar-se para o debate, que, pelo que se anuncia ter� uma presen�a muito forte dos pa�ses desenvolvidos e as grandes corpora��es solidamente articuladas.� O documento de divulga��o da C�pula[2], ao analisar a distribui��o dos recursos da Sociedade Informacional no mundo apresenta os seguintes gr�ficos:

 

Linhas telef�nicas fixas (um bilh�o)

Quantidade estimada de usu�rios de Internet (350 milh�es)

 

Observando os gr�ficos, percebe-se imediatamente que h� uma grave distor��o na an�lise, ao se simplificar a distribui��o por um crit�rio exclusivamente geogr�fico. N�o h� como se trabalhar com os conceitos acima afirmados (distribui��o equ�nime e justa de recursos) reunindo-se os pa�ses da Am�rica do Norte (nomeadamente EEUU e Canad�) com os pa�ses da Am�rica Latina. A an�lise prejudica na base o avan�o da constru��o de uma proposta de Sociedade Informacional que inclua os pa�ses em desenvolvimento.

Outra quest�o importante � a completa aus�ncia de refer�ncia ao portugu�s como idioma de trabalho para a C�pula. Somos, no Brasil, cerca de 175 milh�es de cidad�os que n�o ter�o acesso a documentos em nossa l�ngua ou teremos que ler os documentos em franc�s, ingl�s ou espanhol. No Brasil ainda n�o est�o difundidos as propostas que o Governo brasileiro ir� defender na C�pula.� Com grande tradi��o e certa lideran�a entre os pa�ses em desenvolvimento nos processos de discuss�o do sistema das Na��es Unidas, o Brasil joga um papel central.� Por essa e dezenas de outras raz�es se justificaria um amplo debate entre os governos em seus diversos n�veis, as empresas e as Ongs para a constru��o coletiva de propostas para a Declara��o de Princ�pios e� Plano de A��o da CMSI. Corre-se o risco de vermos acontecer, de longe, a realiza��o de uma C�pula Mundial da Sociedade da Informa��o dos pa�ses ricos...



[1] Cyranek, Gunther - A Vis�o da Unesco sobre a Sociedade da Informa��o. Dispon�vel no site: http://www.ip.pbh.gov.br/revista0301/ip0301cyranek.pdf

 

[2]Cumbre Mundial sobre la Sociedad de la Informaci�n, dez, 2001, ITU / UN - brochura de divulga��o